Temos acesso a inúmeras tradições filosóficas, religiosas ou espiritualistas, que contam com história milenar, representando a sabedoria das eras e dos povos que nos antecederam. Respeitadas as particularidades de orientações aplicáveis principalmente ao contexto do(s) escritor(es), os textos com os quais podemos nos relacionar têm o potencial de permitir que passemos em revista as crenças e os dogmas que carregamos nem sempre de forma consciente. Nem todos se interessam por esse tipo de investida, mas aos que optam por essa via o ideal é que a jornada se paute pela noção de que, por mais elevada ou inspiradora que a fonte pareça ser, tudo é obra puramente humana. Afinal, mesmo quando o personagem se apresenta com contornos pretensamente divinos, ele não faz nem diz nada que o escritor não queira que seja feito ou dito (sim, na prática, como marionete), ainda que com o objetivo apenas de tentar justificar acontecimentos ou o estado das coisas no momento em questão, servindo, às vezes, para levantar o moral do leitor a quem o autor se dirigiu originalmente. A despeito dos desafios, inclusive porque de forma usual os originais ou as cópias mais antigas dos textos que se nos apresentam se comunicam por meio de língua morta, podemos nos valer do trabalho de especialistas e de materiais de apoio, em benefício da melhor compreensão possível. Contudo, tratando-se de exercícios espirituais, é fato que nenhum estudo, por mais importante que seja, consegue substituir a prática, pois apenas por meio dela a pessoa interessada poderia experimentar e, assim, comprovar em primeira mão o valor efetivo de tais ensinos. Em outras palavras, nem sempre os atalhos são válidos, necessários ou recomendáveis, já que, em regra, aprendemos de verdade ao realizar a ação do verbo, seja, por exemplo, caminhar, estudar etc., seja viver.
Tradições milenares
Ariovaldo Esgoti
25/10/2025